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De Erfurt a Berlim


1. Este é um ano em grande, em termos de eleições, na Alemanha. Não só terá lugar a eleição do parlamento federal, que ditará a escolha do novo chanceler, como serão eleitos seis parlamentos estaduais, do Sul ao Norte do País. Como qualquer eleição, serão uma oportunidade única de avaliar o que vai bem e mal no país e as escolhas para o seu futuro. As perspectivas sobre algumas delas convidam-me a deixar, desde já, alguns apontamentos iniciais.


Comecemos pela Turíngia, onde Bodo Ramelow, que nos foi vendido como arauto da democracia, um moderado que, certamente apenas por distracção – pois então! – decidiu militar no partido de extrema-esquerda, não foi capaz de cumprir o acordo que lhe permitiu manter-se no poder, depois do espectáculo vergonhoso que teve palco no parlamento estadual do ano passado, faz agora exactamente um ano. O quotidiano pode ditar que nos distraiamos, mas, curiosamente, quem quis assinalar a efeméride foi a esquerda, que continua a pavonear-se sobre algo que a devia envergonhar – mas, já estamos habituados. A verdade é que temos uma eleição adiada por vários meses e um líder de governo que despende mais tempo a divertir-se na aplicação que é o último grito da moda, do que a fazer valer os compromissos democráticos que disse querer defender.


Passou-se um ano sobre o degredo democrático da Turíngia, episódio sobre o qual a minha revolta é bem conhecida dos leitores: o editorial de Fevereiro passado mereceu-me uma revisita e fez-me aperceber tratar-se de uma afirmação política da qual muito me orgulho.

Foi o episódio que determinou a minha militância num partido político, pela primeira vez na minha vida. O voto a nível federal pode ainda estar vedado a cidadãos da União Europeia, mas a participação política, não. Felizmente, na Alemanha, a escolha para um liberal é, há anos, muito mais fácil do que o foi, por demasiado tempo, em Portugal, onde, finalmente, o liberalismo começa a afirmar-se despudorado.


Com o adiamento da eleição na Turíngia, a primeira eleição no calendário será em Baden-Württemberg e em Rheinland-Pfalz, já no próximo mês. Mas, como será fácil de antecipar, para um residente em Berlim, a eleição nesta cidade-Estado, é a que capta a atenção principal. Este ano, ao contrário do que se verifica já há décadas, a corrida para o primeiro lugar está em aberto e em disputa entre SPD, Verdes e CDU. Há que ter presente que os Verdes de Berlim não são os Verdes de Baden-Württemberg, portanto, o que vejo como crucial para esta eleição, é garantir que não venham a liderar uma coligação governamental, porque já basta de extremismos à solta. A posição mais fragilizada do SPD resulta da escolha da ministra da Família, Franziska Giffey, uma moderada com um trabalho notável enquanto presidente de câmara de Neukölln, para liderar o partido em Berlim. Infelizmente, deixou-se envolver num escândalo de plágio da sua tese de doutoramento, que pode vir a comprometer uma solução ao centro. Afinal, é alguém que não tem problemas em reconhecer que a intervenção estatal no mercado de arrendamento é perniciosa e insustentável (recordo o meu editorial de Junho de 2018), o que vindo de uma voz à esquerda é uma lufada de ar fresco.


Valha poder dar-me por feliz em saber que, a nível federal, muito dificilmente haverá um governo liderado pela esquerda porque, nestes dias, é ela que nos quer extremizar, recusando uma auto-reflexão sobre o contributo activo que dá para o crescimento do espectro político-partidário oposto e a alienação de milhares de eleitores. Resta-me desejar que a coligação que se venha a formar inclua a cor amarela, porque entendo que é, há muito, a única que apresenta uma visão clara de futuro e modernidade para este país que nos acolhe, e que dela tanto necessita. Afinal, Merkel sempre foi uma gestora de crises, e, ao longo de 16 anos, foi nelas que soube florir; mas, nesse período, indisponível para 99% dos líderes de governo de países democráticos, não foi capaz de avançar uma ideia para a Alemanha possa continuar a singrar .


2. Publicamos, nesta edição, o centésimo quadro de palavras cruzadas de Paulo Freixinho. Estimamos imenso a dedicação deste cruciverbalista à concepção deste passatempo, que tem um contributo valiosíssimo para promover um conhecimento maior e melhor do vocabulário português.


Tiago Pinto Pais


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