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Irra!


Parece-me razoável esperar o mínimo de sanidade na discussão política, ainda mais quando cada dia torna mais visível os erros flagrantes que as decisões apaixonadas, a quente, podem precipitar – e, sim, tenho especialmente a saga do Brexit presente em mente, uma recordação diária do que acontece quando os políticos se demitem das suas responsabilidades, ignorando o racional de se escolher representantes para os parlamentos (e como tal é o garante do bom funcionamento das democracias), acabando por atirar achas (referendos, entenda-se) para a fogueira populista.


Contudo, pelos vistos, nem o caso prático dos impactos de referendos populistas consegue garantir uma inflexão no recurso ao populismo. Este está de boa sáude, é fácil e, pelos vistos, continua a ser perscrição em voga na procura de respostas para problemas complexos e é transversal ao espectro político-partidário. Tem sido penoso assistir, nas últimas semanas, ao esforço das esquerdas para aceitar este medicamento, enveredando por propostas que uma pessoa dispensaria ver em vida num país democrático e desenvolvido, esperança houvesse que a história ensinasse. Pelos vistos, o melhor que nos têm para oferecer como solução para problemas reais é uma política que foi apaixonadamente implementada por nazis e comunistas: o apoderamento da propriedade privada pelo Estado.


A simples especulação sobre a eventualidade da expropriação poder ser considerada como uma política adoptar para endereçar a subida de preços no mercado mobiliário é um perigo. Pelos vistos não custa às esquerdas pôr o crescimento económico em cheque, ameaçar a destruição da criação de empregos e riqueza futura e, claro está, assumir uma vontade tremenda em alimentar o desperdício de dinheiros públicos. Tenhamos presente que, só em Berlim, se poderá estar a falar em 36 mil milhões de compensações a proprietários, a ser paga por todos os contribuintes, para dar corpo a uma política que em nada contribuirá para uma descida de preços no mercado imobiliário. Embora um bom liberal possa desejar competição acrescida, para uma eficiência acrescida no funcionamento dos mercados, a irrelevância percentual dos grandes proprietários na totalidade do mercado é inexpressiva para poder afectar uma tendência nas flutuações de preço no mercado.


Há o risco deste debate sobre expropriação, que bem se poderia desejar datado e ultrapassado, poder vir a marcar a agenda dos próximos meses e, provavelmente anos. Neste jornal haverá uma preocupação tremenda em informar sobre este assunto, tamanhos os erros que se vêem ser propagados. Aos políticos seria apenas de se pedir que sejam responsáveis, que tenham a coragem de assumir a paternidade das ideias e não as empurrem facilmente para um referendo. Já vamos conhecendo o desfecho de decisões complexas postas à consideração dum voto facilitista e desinformado.


Tiago Pinto Pais


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